2026: O Ano da Viragem para o Vinho? Como Preparar o Seu Negócio para o Novo Ciclo Global

Introdução

Após anos de desafios intensos – pandemia, inflação, alterações climáticas e mudanças profundas nos hábitos de consumo –, o setor do vinho começa finalmente a vislumbrar sinais claros de retoma. Um estudo internacional aponta 2026 como um possível ponto de viragem e 2027 como o início de uma nova fase de crescimento sustentado no mercado global.

Mas atenção: este novo ciclo não será um simples regresso ao passado. A sociologia do consumo mudou, os canais de venda transformaram-se e os consumidores valorizam hoje critérios diferentes. Assim, produtores, diretores comerciais e equipas de marketing enfrentam uma pergunta urgente: como preparar os seus negócios para vender mais, comunicar melhor e crescer com sustentabilidade neste novo contexto?



2026–2027: O Começo de um Novo Ciclo?

De acordo com uma análise conduzida pelas Universidades de Bordeaux e Verona, apresentada pelo economista Jean-Marie Cardebat numa conferência em Milão, existe um padrão cíclico na economia que favorece a retoma do setor do vinho. A manter-se a inflação controlada, 2026 poderá ser o ano da viragem, com uma recuperação consolidada a partir de 2027.

O estudo, que teve como caso prático a italiana Masi Agricola, alerta que esta recuperação não será uma repetição do passado. Os comportamentos dos consumidores mudaram significativamente – o que obriga o setor a adaptar-se, reformular estratégias e reconhecer que o “novo normal” é feito de novas exigências, canais e públicos.

Fonte: The Drinks Business, Wine-Searcher, WineNews.it

O Novo Normal do Vinho: Tendências que Irão Moldar o Futuro

Premiumização
A busca por valor e qualidade continua a ganhar terreno. Mesmo em tempos de incerteza económica, o consumo de vinhos premium manteve-se estável ou até aumentou. O consumidor atual procura menos volume e mais significado – qualidade, diferenciação e história.

Enoturismo em Alta
O enoturismo deverá movimentar mais de 50 mil milhões de dólares em 2025, com taxas de crescimento anual entre 12% e 13%. A procura por experiências autênticas, ligadas à terra e à cultura vínica, reforça o papel das adegas como polos turísticos e vivenciais.

Portugal, recentemente eleito “Melhor Destino de Enoturismo do Mundo” (Marketeer.pt), tem aqui uma oportunidade ímpar. Investir em visitas guiadas, provas comentadas, alojamento temático ou experiências gastronómicas pode representar uma vantagem competitiva clara.

Mercados Emergentes e Dinâmicas Globais
Economias como o Brasil e vários países da América Latina têm registado um crescimento contínuo no consumo de vinho. Já a China, embora seja um mercado gigantesco, apresenta instabilidade significativa, o que exige cautela e estratégias muito bem calibradas.

Novas Gerações, Novas Preferências
Os consumidores mais jovens estão a ditar novas regras: procuram vinhos brancos, espumantes e perfis mais leves. Valorizam autenticidade, sustentabilidade e marcas com propósito. O vinho, para este público, é parte de um estilo de vida – e não apenas uma bebida.

Fonte: WineNews.it, Bebida.pt, ISA.ulisboa.pt

O Que Distingue os Negócios Vencedores no Novo Ciclo?

O estudo de Cardebat e Gaeta identificou os fatores que tornam as empresas mais resilientes e preparadas para crescer:

  • Boa Governança e Estrutura Organizacional
    Empresas bem organizadas, com planeamento estratégico e gestão financeira sólida, têm mais agilidade e estabilidade.

  • Gestão Inteligente da Informação
    A capacidade de recolher, analisar e agir com base em dados (vendas, clientes, mercado) torna-se uma ferramenta vital.

  • Portfólio Diversificado e Direcionado
    Marcas que equilibram tradição e inovação (ex: vinhos biológicos, edições limitadas, sem álcool) conseguem conquistar novos segmentos.

  • Flexibilidade Operacional
    Desde fornecedores alternativos a novas castas e formatos, adaptar-se rapidamente é essencial para responder à procura.

  • Internacionalização Estratégica
    Reduzir dependência de um só mercado é imperativo. A diversificação geográfica e de canais oferece maior resiliência – especialmente relevante para Portugal, onde cerca de 50% do vinho é exportado.

  • Marketing e Branding de Alto Nível
    Contar uma boa história, destacar o terroir, ter uma presença digital forte e comunicar profissionalmente são hoje indispensáveis.

  • Sustentabilidade como Inovação
    A sustentabilidade não é um extra – é uma exigência crescente. Reduzir a pegada ambiental, investir em viticultura biológica ou práticas de enologia de baixo impacto pode gerar diferenciação e fidelização.

Caso de Estudo: A Masi Agricola é exemplo de sucesso ao aliar tradição, inovação, expansão internacional e gestão de excelência.

Portugal: Obstáculos Reais, Potencial Enorme

O tecido empresarial português é maioritariamente composto por micro e pequenas empresas (cerca de 97%), muitas de cariz familiar. Essa estrutura dificulta a profissionalização, a internacionalização à escala e o investimento em marketing ou inovação.

Além disso, o vinho português continua a ser vendido, em muitos mercados, a preços abaixo do valor real. Aumentar a perceção de valor e “subir na cadeia” continua a ser um desafio estratégico.

Outros obstáculos incluem:

  • A volatilidade geopolítica e as tarifas comerciais (como as impostas pelos EUA nos últimos anos)

  • Concorrência crescente de outras bebidas

  • A transformação dos hábitos internos de consumo (mais brancos, menos álcool, maior preocupação com saúde)

Por outro lado, as vantagens competitivas de Portugal são claras:

  • Enoturismo de excelência

  • Diversidade de castas autóctones

  • Vinhos autênticos e com história

  • Reconhecimento internacional crescente

A chave será profissionalizar a receção ao visitante, trabalhar melhor o storytelling das marcas, capacitar as equipas e investir em marketing digital e exportações inteligentes.

Conclusão: Preparar-se Hoje, Brindar Amanhã

O novo ciclo está no horizonte – e 2026 poderá ser o ponto de arranque. Mas o sucesso não será automático. As empresas que se prepararem com estratégia, formação e profissionalismo estarão melhor posicionadas para colher os frutos da retoma.

O tempo de agir é agora. Avalie o seu negócio com espírito crítico:

  • A sua marca está preparada para competir num mercado mais exigente e global?

  • Tem capacidade interna para adaptar-se às novas tendências?

  • Que competências faltam na sua equipa (marketing digital, gestão estratégica, línguas, exportação)?

  • Está a contar bem a sua história ao mundo?

O setor do vinho vai mudar – e quem estiver melhor preparado não só acompanhará essa mudança, como poderá liderá-la. Que 2026 seja o início de um ciclo de prosperidade. Mas para isso, é preciso plantar hoje as sementes do sucesso.

Fontes consultadas:
The Drinks Business, Wine-Searcher, WineNews.it, Marketeer.pt, Bebida.pt, ISA.ulisboa.pt

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