Que crise é esta no Setor do Vinho?
"Excesso de Vinho"
"Tempestade Perfeita"
"Destilação de Crise"
"Excedente Global de Vinho"
"Viticultores do Douro em Protesto"
"Quebra de Consumo"
As manchetes não são animadoras. O setor do vinho enfrenta uma crise em Portugal e, pior ainda, uma crise global. Pelo menos, é o que as notícias nos dizem e o que se discute tanto dentro como fora do setor.
Diversos culpados são apontados. O principal? A importação de vinho a preços considerados inviáveis em Portugal e noutros países, especialmente da vizinha Espanha. Outro culpado frequente são os restaurantes, que aplicam margens absurdas, diminuindo as vendas. A lista continua: produtores, distribuidores, excesso de marcas, inflação, concorrência da cerveja e de outras bebidas, conjuntura económica, guerras, e o lobby da saúde que quer avisos nos rótulos, como no tabaco. As razões para a quebra nas vendas de vinho são muitas e variadas.
Talvez todos tenham um pouco de razão. De facto, há vários fatores a considerar, cada um com um impacto diferente nas vendas, dependendo do segmento, do mercado, da marca e da estratégia. O mercado do vinho é altamente heterogéneo.
Mas é importante reconhecer que más notícias vendem mais do que boas. A comunicação negativa tende a amplificar a perceção de crise, independentemente da sua gravidade real.
Vivemos num mundo em constante mudança, com uma velocidade e imprevisibilidade que desafiam a nossa capacidade de adaptação. Se olharmos para os números globais, houve uma queda no consumo nos últimos anos, mas não tão acentuada como se poderia pensar pelas notícias. Em 2023, o decréscimo global no consumo foi de 2,6%. Embora isso represente uma redução significativa – cerca de 800 milhões de garrafas – não é tão catastrófico assim.
Não invalida que muitos Agricultores e Produtores atravessem situações complicadas e não quero em nenhum momento desvalorizar as dificuldades que o setor passa, mas há caminhos a seguir.
Analisando os últimos anos, vemos volatilidade. No entanto, os dados do 1.º semestre de 2024 trazem boas notícias: as exportações cresceram 3,1% a nível global em volume , e em Portugal, o crescimento foi de 8,5%. Estes números mostram que, apesar das dificuldades, há indícios de recuperação.
Estatísticas como estas são relevantes, mas nem sempre refletem a realidade de cada produtor. No ano passado, conversei com um produtor de renome que me disse: “Estamos a crescer o que queríamos, mas com o triplo do trabalho.” Este exemplo ilustra a luta constante para se manter competitivo, mesmo em tempos de crise.
Este produtor continua a inovar, diversificar, lançar novos produtos, utilizar influenciadores, explorar as redes sociais e marcar presença em diferentes mercados. Enquanto as notícias negativas dominam, ele continua a lançar novidades e a manter-se relevante. A inovação e a diversificação são essenciais para sobreviver e prosperar.
É crucial que estejamos alerta e cientes dos desafios que enfrentamos. Os viticultores, muitas vezes, recebem menos do que os seus custos de produção e têm poucas ferramentas para competir. Mas o setor como um todo deve lutar pelos seus direitos e não se limitar a apontar culpados.
Quanto se investe nas empresas? Que tipo de liderança temos? Quão preparados estão os líderes das empresas? Quanto se investe em conhecer o mercado, em ouvir os consumidores, em comunicar com eles?
É vital preparar e formar as equipas não só em competências técnicas, mas também em competências interpessoais. Devemos investir em vendas, em preparar quem está no terreno, e em comunicação, utilizando os meios certos para atingir o mercado desejado.
O setor do vinho deve perceber que investe menos em marketing e comunicação do que a cerveja e os destilados. Portugal e os seus Agentes Económicos investe menos na promoção do que muitos dos seus concorrentes. Os produtores tendem a priorizar outros investimentos, negligenciando a promoção.
Precisamos compreender os consumidores, independentemente da idade. As mudanças nos hábitos de consumo são cada vez mais frequentes. Temos de comunicar eficazmente, criar estratégias para os alcançar, entender o que querem e conquistá-los.
Para superar esta crise, o setor do vinho precisa de adaptação, inovação e investimento estratégico. A hora é de união e ação. Somente assim conseguiremos transformar os desafios em oportunidades e garantir um futuro próspero para o vinho português.
13/08/24